terça-feira, janeiro 09, 2007

Maria Beatriz, 5 de Janeiro de 1923 a 1 de Dezembro de 2006

O mundo não ficou indiferente com a luminosa passagem desta nossa Amiga, Mestre, Irmã, Mulher, Mãe e Avó. Com a sua Palavra, o seu Gesto, o seu Sorriso, o seu Silêncio, conseguia transmutar situações de conflito com a força da sua afeição.
A Maria Beatriz foi um Ser de convicções profundas e vividas e foi além de tudo uma mulher de ACÇÃO e de COMPROMISSO, sustentados por uma Ética de respeito por si própria, pelos outros e pela Vida.
Compromisso em primeiro lugar com a VIDA UNA – dizia ela tantas vezes: “Não podes tocar a flor sem perturbares a estrela. Tudo está ligado a tudo.” – VIDA UNA que a tudo envolve, tudo traz e tudo leva… Compromisso de Amor pelos outros… Compromisso para com as crianças e os jovens… ela que foi Professora de centenas e centenas de jovens homens e mulheres que transportaram em si, guardaram em si aquela Palavra, aquele Gesto, aquele Sorriso, aquele Silêncio que tão fundo nos tocou e continuará a tocar e a marcar enquanto vivermos, enquanto partilhamos a sua Mensagem de Amor e de Beleza. Compromisso para com a defesa activa dos animais e da Natureza, ela própria VEGETARIANA por COMPAIXÃO e por vontade própria.
Maria Beatriz e Fernando, seu Companheiro de praticamente sessenta anos de vida em comum, foram pioneiros, autênticos exploradores numa terra de preconceito, de mesquinhez e de intolerância como o foi a cidade de Évora em particular, mas como de certa maneira o foi toda a sociedade portuguesa dos anos 40 do século passado. A Teosofia, a Filosofia, a Música, as Artes, o Vegetarianismo, o Livre Pensamento e o Auto-conhecimento acompanharam-nos desde a sua primeira hora enquanto Educadores, brotando muito naturalmente de dentro para fora. A manifestação activa destes saberes, através de actos e relações autenticamente afectivos e educativos, ajudaram a que dezenas, senão centenas de jovens, tenham tido a oportunidade de organizar o pensamento e a sua própria conduta de maneira diferente, em liberdade e em cooperação criadora.
O Ramo “Boa-Vontade” da Sociedade Teosófica de Portugal, criado em Évora, nos finais dos anos 50 do século passado teve na Maria Beatriz um dos seus principais animadores e sustentáculos.
De aparência frágil e simples, Maria Beatriz foi um exemplo de força interior, de auto-sacrifício e de dádiva como nenhum de nós concerteza poderá igualar em exemplo e em qualidade. Já nos últimos dias da sua vida ela continuava a trabalhar, na medida do possível e do suportável, na tradução, na divulgação e na clarificação de textos de J. Krishnamurti… Continuava a ir às reuniões do Ramo “Boa-Vontade”, com uma vontade férrea, cheia de dores, incomodada com um mal-estar que víamos e pressentíamos… Nós outros que por pequenos contratempos de dor de cabeça, de cansaço após um dia de trabalho, de mal-estar passageiro, ou por isto ou por aquilo, deixávamos de comparecer à reunião quinzenal… Ela, quando não comparecia, e era raríssimo que isso acontecesse, era porque de facto estaria fisicamente impossibilitada de se deslocar… Assim tivemos a grande Alegria, o grande Privilégio de poder sempre contar entre nós com a presença luminosa, amiga e sage da Maria Beatriz. E continuaremos a contar com ela no nosso coração, nas nossas orações e meditações, nas nossas memórias mais queridas, mais profundas e imorredouras e principalmente nas nossas relações de compromisso de uns para com os outros, para com a Vida Una.
A OBRA com a qual ela se comprometeu plenamente ao longo da sua extraordinária e riquíssima vida ainda não terminou, saibamos continuá-la… Mais do que saber, tenhamos a coragem e a força anímica, como ela o teve durante anos e anos e anos, de olharmos a VIDA de frente e termos confiança absoluta nela, sem medo, sem preconceitos, com aceitação completa daquilo que acontece, procurando nós deixar este lugar em que agora vivemos, um bocadinho melhor do que estava quando chegámos e o encontrámos…
Tenhamos a coragem de nos despedirmos do seu corpo físico, contudo outra Realidade com toda a certeza aconteceu à Maria Beatriz, tal como a borboleta que após muito esforço conseguiu sair do seu casulo e voou em liberdade e com toda a alegria do mundo em direcção ao Sol, ao Logos, onde tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá se encontra inefável e eternamente inscrito com letras feitas de ouro, de luz e de amor a aguardar o seu e o nosso regresso.

Como dizia Maria Beatriz, num pequenino poema escrito pelo seu punho, em 1977, acredita que

“quando vires o sol acontecer
não digas são os novos
quando a noite descer e o silêncio a envolver como um bálsamo
não digas são os velhos
nem os velhos nem os novos
apenas a Vida se cumpre
(a Vida sem idade)”


R.A.

2 Comments:

At 11:37 da tarde, Blogger Unknown said...

Doce recordação guardo de Maria Beatriz, e do contacto consigo, sua paz, seus braços abertos, seu olhar brilhante!!!uma das mágoas de deixar de viver em Évora (em agosto de 1997)foi ausentar-me das reuniões que promovia...Desejo que todos vós estejam bem ,em paz.Como gostaria que meu filho (de 3 anos)conhecesse alguém como Maria Beatriz...Sei que guardo em mim o aprendido-sentido com esta alma brilhante!
Abraços , pensemos amor, paz, fraternidade.

 
At 11:37 da tarde, Blogger Unknown said...

Doce recordação guardo de Maria Beatriz, e do contacto consigo, sua paz, seus braços abertos, seu olhar brilhante!!!uma das mágoas de deixar de viver em Évora (em agosto de 1997)foi ausentar-me das reuniões que promovia...Desejo que todos vós estejam bem ,em paz.Como gostaria que meu filho (de 3 anos)conhecesse alguém como Maria Beatriz...Sei que guardo em mim o aprendido-sentido com esta alma brilhante!
Abraços , pensemos amor, paz, fraternidade.

 

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