Évora será aquilo que ela própria quiser ser...
Évora é um organismo vivo, tem um querer, tem um sentir, tem uma vontade, muito próprios que foram sendo construídos ao longo de milénios.
Évora detém uma egrégora telúrica, de experiência feita e vivida, que resistiu identitariamente ao longo dos séculos e obrigou os seus habitantes a adaptarem-se, a organizarem-se segundo padrões genésicos pré-definidos e independentes das pequenas vontades dos homens comuns.
Évora marca indelevelmente todos quantos a ela se ligam, por nascimento ou por opção, por obrigação ou involuntariamente, como diriam os do V Império: “por Missão ou por castigo”!
Évora é uma Cidade por excelência axial, vertical tocando-nos a cada um de nós na profundidade do espelho. Contudo muitas vezes a sentimos pendular, detentora de um movimento virtual formado pela relação do nível/horizontal com o esquadro/vertical.
Évora possui vários centros e todos eles comunicando entre si, independentemente do espaço e do tempo em que se manifestem, cujas formas serpentinas e essenciais fazem de Évora uma mater abarcante, soberana e simultaneamente protectora e destruidora.
“A morte é a dissolução necessária das combinações imperfeitas...”, dizia Levi . A destruição é apanágio da divindade tal como a criação, tal como a perfeição. E Évora pertence a um tempo e a um espaço fora das lógicas comezinhas dos seus figurantes mortais.
Não tenteis compreender Évora dentro dos vossos intelectos estreitos e condicionados. Não tenteis dominar Évora porque para a dominar é preciso compreendê-la na sua profundidade, é preciso destrinçar as suas diferentes linguagens ocultas: a linguagem dos pássaros e a linguagem do vento; a linguagem do touro na delimitação sagrada da terra ancestral e a linguagem das sereias na ondulação das árvores centenares; a linguagem dos anjos escrita no fogo cristalizado das pedras erguidas em saudação e a linguagem dos homens na elaboração da síntese possível das diferentes mensagens de libertação.
Évora tem coração e sentir, tem olho de vigília e de pensamento, tem útero protector com a possibilidade de criação, mas igualmente tem mão de ferro, de espada, para purificar e afastar a mente e o desejo profanos do sanctum santorum que em si encerra e que paradoxalmente quer partilhar de forma generosa com aqueles que souberem e ousarem escutar a melodia do som sem som que desde remotas antiguidades sempre guiou e guiará o peregrino incansável, o buscador, o homem liberto das peias do destino.
R.A. – texto em construção
Ramo “Boa-Vontade”, Évora, Novembro de 2005
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