A HERANÇA E O TEMPO NOVO
Maria Beatriz Serpa Branco
O que herdaste de teus pais, conquista-o e possui-lo-ás, diz-se no Fausto, de Goethe.
A herança terá de ser redescoberta, para que seja de hoje, para que seja viva e nossa, servindo realmente todos.
É preciso morrer ao que já foi acabado, ao que está gasto e realizado, para que a vida descubra a sua face nova.
Assim ontem se mostra igual à esperança. Assim ontem e amanhã se tornam hoje, o tempo real. O tempo chave desses dois contrários.
A Herança que H. P. B. recebeu de nossos Pais, assim a possuiu ao dá-la a todos, assim a conquistou ao dá-la ao mundo.
E a «morada» que, com Henry Olcott, sonhou e construiu é o lugar sem lugar para aquilo que nos deu.
Morada sem tecto, inacabada, para que se vejam as estrelas. Morada sem portas, para que todos entrem e nada os estorve de levar o que quiserem.
Há na vida destinos nascidos sobre encruzilhadas. Difíceis e criadores tais destinos.
Sobre uma encruzilhada do tempo, assim nasceu também a Sociedade Teosófica. Voltada aos quatro ventos (antigos novos ventos), humanamente frágil, tem a sua base sobre a rocha das idades.
Assim o que é sem tempo vem fecundando o tempo e o faz realidade. Assim a Antiga Sageza se torna sempre nova, nas formas perecíveis. Que a vida morre para reviver.
Na Sociedade Teosófica de Portugal, [cujos cinquenta anos agora celebramos], também alguns conquistaram a Herança tentando dá-la aos que depois vieram.
Lembramos com profunda e afectuosa gratidão todos os que entre nós fundaram a «morada» e com a sua dedicação e espírito fraterno a conservaram habitada de vida.
Em representação de todos os outros a quem tanto devemos, recordamos aqui Jeanne Sylvie Lefèvre e Félix Bermudes, com toda a nossa ternura e reconhecimento.
Possamos nós continuar o que fizeram, tornando nossa a Herança por uma nova dádiva e uma dádiva nova.
A Sociedade Teosófica será o que nós formos. Fará o que fizermos, para continuar trazendo ao mundo aquela «esperança esquecida», nessa antiga maneira nova de, em Amor, viver e conviver.
O mundo e nós estão a fazer-se ainda.
Nesta encruzilhada do tempo, será morrendo ao velho que transmitiremos a Herança. E a vida em nós fará nascer o tempo novo.
_______________________________________
Mensagem de Maria Beatriz Serpa Branco, Presidente do Ramo «Boa-Vontade» de Évora, por ocasião do Cinquentenário da Sociedade Teosófica de Portugal em Setembro de 1971. Mensagem publicada no Boletim da S. T. P. “OSIRIS”, n.º156, Lisboa, Outubro-Novembro-Dezembro de 1971.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home