sábado, dezembro 31, 2005

Évora - Cidade de História e Cultura

Évora, importante cidade da Província do Alto Alentejo, conta actualmente na sua cintura urbana com cerca de 60.000 habitantes.
Antes de se entrar em aspectos mais concretos sobre a evolução histórica da Cidade de Évora em si, façamos uma rápida abordagem, digamos assim, antropológica, sobre a Fundação de uma Cidade.
A realidade Cidade aparece como o resultado da complexificação das estruturas sociais e humanas. Da família ao clã, do clã à tribo, da tribo à Fundação da Cidade... Nesta co-existem os indivíduos, livres, estratificados numa hierarquia de valores, de direitos e de deveres. É na Cidade que acontece o exercício da lei e do poder (a política), é na Cidade que acontece o exercício da Religião e dos Cultos... A Cidade enquanto suporte físico da Autoridade e da Ordem...
A Fundação de uma Cidade era sempre um acto religioso, como resultado do facto disso acontecer como consequência da união de diversas famílias sob o mesmo culto (Autoridade) e sob o mesmo santuário...
Lembremos um Ritual ancestral de Fundação de uma Cidade, nomeadamente na Antiga Grécia: o herói fundador teria de cavar um pequeno buraco circular e aí lançar um punhado de terra "sagrada", terra em que os seus antepassados estão sepultados...
Da antiga Grécia a Roma e de Roma à Évora primeva. Conceitos e ideias a ter em conta: o Circular, a Sacralização do Espaço (do Caos ao Cosmos), o acto volitivo e de poder. O arquétipo.
A Fundação de uma Cidade, neste caso Évora, data de tempos imemoriais, ofuscados pela lenda... Cidade erigida nos tempos míticos dos heróis e dos deuses... Tempos em que a Cidade era vista como Pátria... como a terra dos antepassados...
Através da História, percebe-se que Évora foi local de encontro e de encruzilhada de diferentes civilizações e culturas.
Citada por vários escritores Romanos, de certo modo biógrafos do Império Romano: Plínio, Pompónio Mela, Antonino Pio, Estrabão...
No ano 700 a. C. teria sofrido uma "invasão" de tribos da Germânia denominadas por Eburones.
Viriato, no ano 144 a. C. terá derrotado o general romano Caio Plácio às portas da cidade.
Sertório designou-a como sede do seu governo no ano 81 a. C..
Júlio César, em 30 a. C. chamou-lhe "Liberalitas Julia", criando em Ebora (assim se denominava nessa altura) o município do antigo direito latino, considerando os residentes enquanto cidadãos romanos.
Por outro lado, e pouco antes da nossa Era, Évora foi crismada com "Felicitas Julia", em honra de César. Segundo o historiador Jorge Alarcão, "Ebora era a cidade da Lusitânia (portuguesa) onde habitava maior número de famílias de origem romana", existindo no seu termo numerosas "villas" rústicas.
Em 413 d. C. outras tribos ocuparam Évora, desta feita foram os Alanos, igualmente provenientes do Norte da Europa.
Por sua vez os Godos conquistaram a Cidade em 612.
Os Árabes tomaram-na em 716 e denominaram-na nas suas Crónicas por Yabburah. Edrici, um dos maiores geógrafos árabes, situa e descreve assim Évora: "Desde Alcácer ao mar há 20 milhas e de Alcácer a Évora duas jornadas. Esta última cidade é grande e povoada. Rodeada de muros, possui um castelo forte e uma mesquita-catedral. O território que a rodeia é de uma fertilidade singular; produz trigo e gado e toda a espécie de frutas e hortaliças. É um lugar excelente, donde o comércio é vantajoso, quer de exportação, quer de importação".
Foi pelos Cristãos conquistada aos Mouros em 753 pelo rei de Oviedo, D. Fruela I, e reconquistada por aqueles em 760 com o auxílio dos moradores, sob o comando de Abd-el-Ramon, Califa de Córdoba.
Fernando magno, rei de Oviedo e de Leão, tornou a apossar-se de Yabburah em 1097, para a perder alguns anos depois.
D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou-a em 1159 (juntamente com Beja), mas foi forçado a abandoná-la por pressão de forte exército Almôada.
Só em 30 de Novembro de 1165, Geraldo Geraldes a reconquistou definitivamente para a recém criada Coroa portuguesa.
A Cidade teve foral por D. Afonso Henriques a 28 de Janeiro de 1167, posteriormente confirmado por D. Sancho I em Santarém, em Janeiro de 1218.
O Rei D. Manuel I deu-lhe Foral da Leitura Nova em 1501.
O Renascimento em Évora, fez da Cidade a capital de um Império... por cumprir!...
Como atrás foi referido, LIBERALITAS JULIA foi o título com que César distinguiu a Cidade de Évora, edificada pelos Romanos sobre civilizações anteriores. Local de encontro e de encruzilhada de diferentes Povos, desde Celtas, Godos, Lusitanos, Romanos, Árabes, Judeus e Cristãos  todos eles contribuíram para a construção da complexa idiossincrasia dos Eborenses. Civilizações cruzadas, que se interpenetram, que se sobrepõem e interagem e que teceram redes de espírito humano, cada qual enriquecedora da anterior... e a Cidade vai, através das épocas, ela própria, edificando-se e formando os Cidadãos, no seu seio...

Uma das principais riquezas da Évora moderna, encontra-se sobretudo associada ao seu Centro Histórico enquanto conjunto arquitectónico e patrimonial de beleza ímpar. Assim, a monumentalidade de Évora, aliada ao seu cunho pitoresco, à vivência humana e cultural, originou a classificação pela UNESCO, em 25 de Novembro de 1986, do seu Centro Histórico como Património da Humanidade, honra que, pela primeira vez, foi atribuída a uma cidade continental portuguesa, tendo esta classificação constituído o corolário de toda a história da cidade ao longo dos muitos séculos de evolução e transformação urbana..
Além de toda a ambiência típica de burgo medievo, que se sente quando nos passeamos pelas ruas e travessas, pelos seus pátios e largos, somos frequentemente surpreendidos por monumentos da nossa História que importa realçar: o Templo Romano, a Catedral, as igrejas de S. Francisco, de S. João Evangelista e de N.ª Sr.ª da Graça, a Universidade, o Aqueduto da Água da Prata e suas Fontes, e muitos outros edifícios e recantos que se espalham equilibrada e graciosamente pela nobre cidade.
Com a valência Património da Humanidade, iniciou-se uma nova etapa da história da cidade, das suas instituições e dos seus habitantes, caracterizada pela responsabilização, ao nível do Património, da defesa e da preservação de um legado milenar continuamente revivificado, tentando no dia-a-dia a sua melhoria e o seu desenvolvimento harmoniosos.

Évora, repertório inesgotável dos nossos melhores poemas de granito e mármore. Diz-nos o Poeta Teixeira de Pascoaes, que se sente «Évora como a Catedral do Silêncio», cheia de misteriosa comoção, a cidade mais bela para os olhos, que se extasiam nos passados longínquos e ao mesmo tempo sempre presentes. Se há alguma cidade que nos remete continuamente para o Mito do Eterno Presente, onde o sagrado e o profano se amalgamam num equilíbrio estético e telúrico, uma dessas cidades será certamente Évora.
Aqui a História está viva. É uma autêntica Aventura e Surpresa re-descobrir Évora sempre que por ela nos passeemos, pelas suas ruas, praças, largos, recantos, fontes, pátios, passeios, jardins, enfim um nunca mais acabar de sítios com ambiências peculiares e que nos sussurram ao ouvido interior e nos convidam para uma Peregrinação e uma Descoberta.

R.A.
Ramo “Boa-Vontade”
Novembro de 2005.

1 Comments:

At 3:23 da tarde, Blogger Isabel José António said...

Obrigada ao Ramo Boa Vontade por estes dois "posts" sobre Évora onde tão bem revelam o seu Amor pela Cidade e de forma tão poética descrevem a sua origem e evolução...

Cidade mágica e sedutora, grande Mãe acarinhante e severa ao mesmo tempo, Évora em todos deixa as suas marcas.

 

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